O blogueiro e escritor abre o peito e fala sobre preconceito, família,
homossexualidade e pessoas mentirosas. Depois de engolir em silêncio as
críticas por ter assumido sua homossexualidade, ele conta que deu a volta por
cima e mostra-se muito feliz e realizado.
A seguir, confira o melhor do bate- papo!
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Jotta durante pausa na sua agenda agitada |
Como foi sua infância?
A minha infância foi muito desafiadora, marcada por momentos bons
e felizes, ao lado de pessoas boas, inclusive alguns ainda levo na minha vida.
Porém, nada era fácil. Conviver com pais separados não era nada feliz. Em
alguns momentos eu senti a falta de um pai, chorei e me calei. Já era outro dia
e eu completava 18 anos. Na verdade, eu ainda sou uma criança, só mudei meu
jeito de brincar.
Quando você descobriu que
não era igual aos outros meninos?
Eu sempre me vi com olhos diferentes. Porém, eu me guardava. O
banheiro masculino era meu canto do terror, pois eu tinha vergonha de tudo e de
todos. Até que um dia a ficha caiu. E eu consegui entender que eu era o patinho
feio do bando.
Como você reagiu? Você
tinha medo? Vergonha? Até quando seu tormento durou?
Quem me conhece, igual você Dafnne, sabe da minha passividade e
temperança. Portanto, a minha reação foi tranquila e positiva. Eu me aceitei e,
o mais importante, eu não tive vergonha do que os outros pensariam de mim. Eu
reconheci que fiz o correto: escolhi viver quem realmente eu sou. No entanto,
tive medo do medo: o medo de ser tratado como um judeu, um homem sem respeito e
sem direito a vida. Quanto ao tormento, eu o vivo diariamente, quando não sou
respeitado por parte dos meus parentes. Os da rua, eu ignoro, assim como ignoro
os que se escondem por trás de um perfil em uma rede social. A única coisa que
me machuca é a gozação por parte dos que são do meu sangue. Mas, estou vivendo
e muito bem, inclusive.
Quando você teve a
primeira experiência com um homem?
É para contar mesmo? (risos) Eu sempre gostei de meninos, desde a
infância. Minha primeira vez com um homem foi muito involuntária, devido a
minha imaturidade. No entanto, foi boa e o local era adequado. Lembro-me do
rapaz, mas não recordo do seu nome.
Como foi a reação da sua
família quando você contou que era homossexual?
A minha família reagiu de diversas formas, alguns me apoiaram e
aplaudiram o fato, outros viraram as costas. A minha mãe não acreditou. Fez o
maior auê. Mas, com o passar do tempo, ela já reage melhor, mantém contato
comigo, coisa que antes não acontecia. Quanto ao meu pai, a única reação dele
foi fazer piadas nas redes sociais, o que levou-me a desfazer o vínculo de
amizade, se é que tínhamos algum. As minhas irmãs se incluem na parte dos que
reagiram bem.
O fato de você
ter se tornado uma pessoa pública, contribuiu para que a sua família aceitasse
a sua homossexualidade?
Por eu ser uma figura pública a coisa só piorou, uma vez que eu
tenho uma popularidade decorrente do trabalho que fiz e faço e,
consequentemente, a minha vida se torna um livro aberto, uma exposição de atos
e fatos, então, alguns familiares acham que esta exposição ao público é
vergonhoso e desnecessário, por conta do preconceito social e pelo fato de eu
ter frequentado a religião protestante.
Você sofre com o
preconceito?
Agora assumido, aconteceram dois casos muito sutis: o primeiro foi
um senhor me corrigir quanto à forma que eu levava a minha pasta de documentos:
“quem coloca assim [a pasta] é mulher!”, berrou o desconhecido e sem noção; o
segundo caso foi um rapaz, ao me ver junto com Claudio, meu namorado: “é falta
de mulher?”. No entanto, eu não sofri com isso, dei o silêncio como resposta e
depois eu fiquei rindo com Claudio, tomando um belo vinho no apartamento que
resido.
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Jotta em momento relax com o namorado |
Que manifestações de
preconceito são comuns no seu cotidiano?
Eu sofro mais preconceitos na vida fictícia, refiro-me às redes
sociais, por parte do povo gospel (termo irônico para definir esses seres). Um
fato muito comum é quando um deles dizem que “sou uma abominação” ou que “estou
com um demônio”, ou pior, que “é o fim dos tempos”. Na faculdade, no trabalho e
na sociedade em geral, sou respeitado e muito amado.
O que mais
gosta de fazer e não pode?
Cantar e dançar ao som de
Joelma, meia-noite (risos).
O que você acha dos atos
de afirmação LGBT, como as paradas de São Paulo e do Rio de Janeiro?
Sinceramente, acho que
precisa ser ajustada. Há muita coisa positiva e válida. O que me incomoda,
porém, nas paradas LGBTS é a futilidade de alguns homo e bissexuais que só
enriquecem o discurso de ódio de algumas pessoas. Urge que saibamos lutar de
forma sadia e amigável, isto inclui ocupar os espaços inerentes ao ofício de
cidadania. Precisamos, por fim, de pessoas corajosas que queiram fazer a
diferença, começando consigo mesmo.
Como foi o
início do namoro com Claudio?
Começamos por uma rede social, sem muitas intenções. Cerca de um
ano depois, resolvemos colocar os planos em dias. Marcamos o encontro, foi
lindo, uma sintonia perfeita.
Como sua
família reagiu? E a dele?
A minha família só soube, de fato, da minha orientação sexual,
quando eu assumi o relacionamento com Claudio, então, a reação foi boa e ruim,
alguns aceitaram, outros não aceitam, e os mais sábios, apenas respeitaram.
Recebemos o apoio inicial da irmã dele, Cássia, que nos encorajou a contar aos
pais dele. Então, combinamos o dia. Abri o jogo para os pais dele e,
surpreendentemente, eles nos apoiaram e nos acolheram muito bem. Foi o melhor de
tudo isso.
Vocês se
sentem à vontade para demonstrar carinho em lugares públicos?
Sim, porém, com limites, tudo com a dosagem certa, da mesma forma
que os heteros devem se comportar.
Quais são os
planos para o futuro?
Os planos são os melhores. Queremos imortalizar esta união e,
assim como todos, temos planos para construir uma família, com todo carinho e
educação que os filhos precisam.
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Jotta durante evento realizado sob sua supervisão |
Como surgiu o
convite para atuar na Amanhecer FM? Como foi esse período?
Foi em 2015, na época eu era vice-presidente da UMESC (União
Municipal dos Estudantes Secundaristas de Canindé/SE). Como eu participava
muito da comunicação da UMESC, fui ouvido, em uma reunião que aconteceu na
rádio Amanhecer, pelo ex-diretor Bruno Balbino, o qual fez-me o convite para
ser colaborador da emissora. Foi um período de muito aprendizado. Eu comecei
sendo repórter do "Fala Cidade" e, posteriormente, como apresentador dos programas
“Bom Dia 104” e “Até que enfim é sexta-feira”.
O que aprendeu
na Rádio Comunitária?
Aprendi muito. Posso pontuar uma coisa em especial, o jornalismo.
Tive uma grande oportunidade de ser aluno do diretor, na época, Bruno Balbino
que, entre puxões de orelhas e elogios, incentivou-me a nunca desistir e isso
me fez ser melhor em tudo, na vida pessoal e profissional. Sou muito grato.
Como se deu
sua imersão pela comunicação social?
Quando fui pela primeira vez entrevistado por você, Dafnne, em um
ato político dos estudantes no município de Canindé. Eu fiquei encantado por
ser entrevistado, parecia coisa de outro mundo. Foi amor à primeira vista. A
partir desse momento, eu me apaixonei pela comunicação social e o convite que
recebi para atuar na Amanhecer FM só fortaleceu ainda mais esse sonho.
Quando
descobriu que queria escrever?
Eu não planejava ser escritor. Tudo aconteceu por acaso, quando
fui convidado por Damião Feitosa, bestfriend, a participar do II Encontro de
Escritores Canindeenses, organizado pelo vate Tinho Santana. Fiz um pequeno
poema intitulado “A paz” e uma crônica que batizei de “Diário de um heroi”.
Após a repercussão dos textos, eu pude entender que eu era, de fato, escritor.
E nunca mais pretendo parar.
Como nasceu
seu blog?
O blog “Conectando com o Jotta”, que em seu lançamento era
intitulado “Interagindo com o Jotta”, nasceu desta vontade de fazer comunicação
social. Eu quis imprimir a minha identidade em cada nota que eu publicasse. A
necessidade maior foi a de reproduzir as demandas comunitárias que a mídia não
valoriza e não dá evidência. O objetivo, portanto, do meu blog é noticiar,
informar, fofocar, entreter, criticar e refletir sobre o nós, as coisas, as
pessoas, o mundo.
Como é a
reação do público?
Na época que o lancei, foi uma novidade. Não passava de 15
visualizações por mês. Era pouco conhecido. Mas, com a convergência midiática,
o blog tornou-se muito explorado e o resultado foi um patamar de visualizações
altíssimo, sendo, inclusive, surpreendente para mim. O público reage de
diversas formas, alguns me aplaudem e me motivam a continuar com o blog, outros
dizem que sou exagerado e desnecessário.
Como você
encara às críticas ao seu trabalho e as fofocas sobre sua vida pessoal?
Eu consigo lidar com as críticas, algumas são válidas e eu gosto,
outras eu dispenso igual gente falsa.
Como é um dia
na sua vida?
Como sou muito inquieto, estou sempre querendo inovar e criar
coisas novas. Acordo um pouco mais tarde, tomo meu sagrado café e sigo para a
vida de blogueiro atrás de pautas, bem como trabalho em casa para minha
empresa, a JM Editora. À tarde me ocupe com o trabalho em uma escola do estado.
À noite, curso Letras Português e Espanhol, e depois, retorno para o blog e
para empresa, até altas horas. Nos fins de semana, procuro relaxar e cultivar o
amor, aos familiares e amigos; e ao meu futuro marido.
Quais cuidados
toma para que o sucesso não suba à cabeça?
Eu faço uma terapia comigo mesmo: eu não sou suficiente para o
Brasil. Quando eu faço essa reflexão, eu desço dos saltos altos e piso no solo
arenoso e quente. Então, reconheço-me como simples aprendiz.
Qual o tamanho
do seu ego?
O meu ego é relativo. Quando eu sou desafiado ou criticado por
algo que eu domine, o meu ego toca o céu. Porém, quando recebo elogios, eu
comparo o meu ego como uma bexiga de assopro que é levemente secada o ar.
Como você lida
com a pressão de ter notícia quente com frequência?
As pessoas me interrogam: “o que há de novo Jotta?” E eu preciso
mostrar. Em uma sociedade tão diversificada, sempre há algo novo que pode ser
escrito e compartilhado. Então, eu respiro umas quinhentas vezes, pego meu
notebook e vasculho a vida das beldades, assim como troco ideias com minhas
fontes para me atenuar dos babados mais ardidos. Em suma, eu pesquiso, avalio,
escrevo, reescrevo a nota e a publico na blogosfera.
Teve alguma
situação em que se sentiu mal e teve vontade de largar tudo?
Todas as vezes que eu recebia um feedback negativo por parte dos
leitores, logo no início, eu me sentia muito mal. Hoje, eu consigo peneirar as
energias e busco sempre me alegrar com minhas postagens, pois são frutos de
grande esforço e dedicação. Em vez de pensar em desistir, eu busco forças para
melhorar e seguir fazendo e acontecendo no sertão sergipano. Por fim, agradeço
a oportunidade de mostrar minha intimidade de forma franca e falar sobre o meu
blog, o qual pode ser visitado no link: https://conectandocomojotta.blogspot.com/.
Recentemente
você publicou no seu blog que alguém lhe enviou nudes. Isso é comum no seu dia
a dia? Você acredita que pelo fato de você ser gay, os homens se acham no direito
de lhe faltar com respeito? Se sentem no direito de afirmar que porque você é
homossexual tem que ficar com qualquer um? Como você lida com o assédio sexual?
Infelizmente, nós gays ainda somos taxados como objeto sexual por
parte de uma parcela da sociedade machista e ignorante. Eu recebia
constantemente convites ofensivos, juntamente com nudes.Na época, de solteiro,
até ignorava alguns, mas agora compromissado, eu bloqueio mesmo e, se o boy for
casado, ainda denuncio à sociedade.
Urge, portanto, que tenhamos mais avanços no tocante à comunidade
LGBT, pois, ao contrário do que relutam, temos o mesmo direito à vida social e,
merecemos respeito, acima de tudo, respeito.
*Fotos: Arquivo pessoal