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Psicólogo André Felipe fala sobre o Setembro Amarelo

Foto: DV 

Falar sem tabu sobre suicídio para preveni-lo é a proposta da campanha Setembro Amarelo. À frente do movimento no Brasil, o CVV (centro de valorização da vida) durante todo o mês de setembro vai promover através de campanhas de sensibilização, diversos eventos, workshops e palestras, além de manter estandes de atendimento em várias cidades brasileiras.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina, que também realizam a campanha, todos os anos são registrados cerca de 12 mil suicídios no Brasil.
Nesta edição, o lema da campanha é “Falar é a melhor solução”. E para comentar sobre o tema em pauta, conversei com o psicólogo clínico André Felipe Nunes de Melo.


O que é o Setembro Amarelo?
É uma campanha que foi criada com o intuito de informar as pessoas sobre o suicídio, uma prática que normalmente é motivada pela depressão e que mesmo com tantos casos notórios, crescentes a cada ano, ainda existe uma expressiva barreira para falar sobre o problema.
A campanha teve início no Brasil, em 2015, pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). As primeiras atividades realizadas pelo Setembro Amarelo aconteceram na capital do país, Brasília; mas já no ano seguinte, várias regiões de todo o país aderiram ao movimento e também participaram.

O suicídio é considerado um problema de saúde pública e mata 1 brasileiro a cada 45 minutos e 1 pessoa a cada 45 segundos, em todo o mundo. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da Aids e da maioria dos tipos de câncer. Pelo menos o triplo de pessoas tentaram tirar a própria vida e outras chegaram a pensar em suicídio. Apesar dos números tão alarmantes, o assunto ainda é tratado como tabu?
O suicídio “tem sido um mal silencioso, pois as pessoas fogem do assunto e, por medo ou desconhecimento, não veem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas. Ainda por muitas famílias e profissionais, o suicídio é tratado como tabu sim, principalmente por ser um assunto tão delicado e que ainda grande parte das pessoas partem da superstição de que falar vai estimular mais as pessoas a cometerem suicídio.

Mas como buscar ajuda se sequer a pessoa sabe que ela pode ser ajudada e que o que ela passa naquele momento é mais comum do que se divulga e ela imagina?
Vários fatores podem levar alguém ao ato extremo de atentar contra a própria vida. Geralmente, a depressão e/ou outros transtornos mentais (ou uma associação de problemas psicológicos) são fatores de risco, mas há casos em que problemas sérios, sejam financeiros, familiares ou afetivos, a dificuldade de lidar com eles e a falta de solução podem também ser a razão para essa decisão.
Procure atendimento nos sistemas de saúde, conversar com um profissional é o primeiro passo. Desabafar com uma pessoa de sua confiança e pedir auxilio é muito importante. Lembre-se o suicídio não é solução para os problemas e sim, uma maneira equivocada de se livrar deles. Você também pode ligar para o Centro de Valorização da Vida (CVV) no numero 188, podendo compartilhar suas angústias e receber apoio emocional.


Ao mesmo tempo, como é possível oferecer ajuda a um amigo ou parente se também não sabemos identificar os sinais e muito menos temos familiaridade com a abordagem mais adequada?
Como identificar: comportamento retraído, dificuldades para se relacionar com a família e amigos, irritabilidade, pessimismo ou apatia, mudança no hábito alimentar e de sono, tentativa anterior de suicídio, automutilações, sentimento de culpa, desvalor e desamparo, perdas recentes (namoro, casamento, mortes), sentimentos de impotência, desesperança, solidão, falar repentinamente em morte, convívio familiar conturbado. Esses são alguns dos comportamentos que são apresentados por aqueles que tentam se livrar da sua vida cometendo o suicídio. Se percebeu algumas dessas situações com um familiar, amigo ou conhecido seu, você deve ajudar da seguinte forma: ouvindo, mostrando empatia e ficar calmo, ser afetuoso e levar a situação a sério, pergunte sobre tentativas ou pensamentos anteriores sobre suicídio, converse com a família imediatamente, remova os meios se possível, se o risco for grande, fique com a pessoa, não deixe ela sozinha, expresse respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa, entenda os sentimentos da pessoa, mostre preocupação, cuidado e afeto.

O câncer, a AIDS e demais doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), há duas ou três décadas, eram rodeadas de tabus e viam o número de suas vítimas aumentando a olhos nus. Foi necessário o esforço coletivo, liderado por pessoas corajosas e organizações engajadas, para quebrar esses tabus, falando sobre o assunto, esclarecendo, conscientizando e estimulando a prevenção para reverter esse cenário. Você acredita, que falta informação à sociedade acerca do suicídio?
Informação acredito que não falta, pois, hoje temos muitos meios para entendermos e se conscientizar sobre esse assunto. Mas o que eu percebo é que infelizmente a sociedade, mesmo no século XXI ainda não dar a real importância para o assunto, e que na maioria das vezes usam ditados, de que quem se mata não fala e sim vai lá e faz. O que precisa ser feito é o assunto ser tratado com mais seriedade e importância por aquelas pessoas que estão ouvindo falas do tipo “minha vida não faz mais sentido”, para que ao percebermos esse desejo daquele individuo, possamos ajudar e mostrar para aquela pessoa que a vida dele é importante. Não devemos apenas dizer não ao suicídio, mas devemos principalmente dizer SIM à vida, pois, a vida é o nosso maior bem que temos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, existe prevenção em mais de 90% dos casos de suicídios. De que forma?
Os principais fatores de proteção que reduzem o risco de suicídio; são considerados isoladores contra o suicídio e incluem:
• Apoio da família, de amigos e de outros relacionamentos significativos;
• Crenças religiosas, culturais, e étnicas;
• Envolvimento na comunidade;
• Uma vida social satisfatória;
• Integração social como, por exemplo, através do trabalho e do uso construtivo do tempo de lazer;
• Acesso a serviços e cuidados de saúde mental;
Relacionamento estável.

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