Segundo Antra, 90% das pessoas trans
estiveram ou estão na prostituição

O
relato acima é da transexual Jéssica Taylor. Ela foi expulsa de casa aos 10
anos de idade e, aos 11, se viu obrigada a entrar no submundo da prostituição
para sobreviver. Isso mesmo, sobreviver. À época, há mais de 30 anos, o
preconceito era latente e ecoava aos quatro cantos das imediações do Centro da
cidade, principal reduto para aquelas que ousaram ser diferentes.
“Iniciei
no Banese Central, até que fui para o Calçadão da Rua São Cristóvão com
Itabaianinha. Depois tive que migrar para a Rua da Frente, foi aí que fui
conhecer a Rua da Frente, porque a gente parecia morcego e não podia sair
durante o dia. A gente se escondia e só aparecia à noite. A sociedade se
recolhia e a gente aparecia”, narra Jéssica.
Mas,
mesmo que a narrativa não dissesse o tempo exato dos acontecimentos, poderia
ser facilmente confundida com os dias atuais, como se fosse um caso que tenha
acontecido no início desse ano ou, até mesmo, na semana passada. A realidade
continua semelhante.
Segundo
o Relatório da violência homofóbica no Brasil, publicado pela Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, a transfobia faz com que esse
grupo acabe tendo como única opção de sobrevivência a prostituição de rua.
E
esse dado é ratificado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais
(Antra), que, com base em dados colhidos nas diversas regionais da entidade,
aponta que 90% das pessoas trans recorrem a essa profissão em algum momento de
suas vidas.
Para
a presidente da Associação de Travestis e Transgêneros de Aracaju (Astra),
Tatiane Araújo, nada mudou. Pelo contrário, o mercado de trabalho para essas
pessoas tem se tornado um ataque à ideologia de gênero.
“Eu
denuncio isso há mais de 15 anos. Eu mesma, coordenei um projeto ligado a uma
ONG internacional, há 10 anos, onde levantamos que travestis e transexuais
possuíam como única alternativa de vida, a prostituição. E a gente vê que o
dado não se altera. O mercado de trabalho discrimina e isso se reverbera na
exclusão social, onde só resta a esquina, que muitas vezes, não é segura. Um
dado que reflete essa mazela social”, lamenta Tatiane.
Ela
continua: “Há uma carga de falta de informação e ataque à ideologia de gênero.
Não que a prostituição seja algo errôneo, que as pessoas devam se envergonhar
dela, porém, não deve ser a única alternativa de uma pessoa trans para a
sobrevivência. As trans que conseguem vencer a barreira do preconceito da
esquina, elas trabalham no mercado informal como cabeleireiras”.
Mesmo
com toda essa história triste e de superação diária, Jéssica Taylor não se
deixa abater. Ela fundou há 20 anos a Associação de Travestis Unidas,
presidida, atualmente, por ela. A entidade serve como apoio principal para
aquelas que, assim como Jéssica, ousaram se tornar donas de sua própria
história em busca da tão almejada felicidade.
“O
sonho que eu tenho é que eu possa dormir e acordar sem ter que ver nenhuma
travesti e transexual ser violentada”, finaliza Jéssica Taylor.
0 comentários:
Postar um comentário